quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Partir


a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
a
Ilustração de Susanne Jansen
a
Encontro em mim a vontade de ir.
De partir, de sair, de simplesmente ir.
Na realidade nem preciso de malas,
a espuma do mar vou encontrá-la cá dentro.
Vai ser um fechar de olhos com força,
Com o escuro a lamber-me as pestanas do sal que guardo dos sonhos.
Realmente não vou longe,
Mas a viagem será longa e tenebrosa.
Temo as vagas e o chamamento confuso das águas…
São mares antigos que estremecem cá dentro,
Estouram em sal e soluços e sabor a vento.
É água que me afoga e grita e que me enche os pulmões.
Fico assim portanto:
Sozinha no cais à espera da coragem que me vai obrigar a reencontrar.
Rio sem querer aflita e com a audácia do não querer ficar,
Toco a fenda desta alma de pedra imaculada.
E vou.
Despejo a gaveta no chão.
Cá dentro encontro cartas, beijos, gavetas cheias de outros, de mim, de páginas arrancadas e riscadas.
Sinto corar em mim as faces, o estômago aperta-se com dor.
Gaveta despejada no chão
Com a alma apertada de gritos mal dados…
Rebento as cordas que me magoam as asas.