sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween


Ilustração de David Wenzel

Noite de Halloween


.
.
.
.
.
.
.
Ilustração de Nicoletta Ceccoli
.
.

Ela surgiu numa noite como esta, em que os mundos do visível e do invisível se tocam e entrelaçam os dedos como por magia…
Eu estava quieta esperando qualquer coisa… mas só a tristeza se movia.
Ela, feita de vazios e enganos, era uma pintura de cores cruéis.
Eu sentia o perfume que a envolvia. A sua fragrância espalhava-se pelos montes, inebriava os ventos.
Nisto, um penhasco desenhou-se a seus pés. Um mar surgiu grande e revolto… Um vento foi chamado do nada, e rodopiava-a, chamava-a para o abismo.
Ela atirou com o manto que a cobria. Lançou para trás o seu cabelo revolto, e com um olhar acalmou o vento.
Como pôde ela com um olhar acalmar o vento?
Ela desenhava gestos pedindo ao vento que a deixasse voar no seu seio… mas estes gestos surgiam pesados e ocos. O silêncio tornava-se desagradável. O tecido branco que a moldava adormecia em afagos no seu corpo.
Vi então que se virou de costas para o penhasco, tão lenta quanto o seu desejo o permitia. Chegou-se ao abismo e simplesmente deitou-se no vazio… esperando uns braços mudos que a agarrassem.
Ela caía pesadamente como rocha que se desprende. E sei que mesmo ao sentir o mar, ela esperava uns braços mudos que a levassem.
A sua presença foi ignorada pelos ventos… Tudo o que surgia era puro acaso, pura coincidência de imagens.
Dela ficou o perfume e mesmo esse voou para longe.
Nada morreu com ela…