sábado, 7 de março de 2009

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Ilustração de MEHRDOKHT AMINI
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Entrego-me,
deito-me no céu vazio, azul, intenso,
aguado de mar e sal e lágrimas e areia que dói quando se esfregam os olhos...
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Deito-me no vazio do céu, rasgando as nuvens, o vento,
as correntes quentes e frias que me lambem o corpo e agarram,
dilacerando e reabrindo golpes antigos.
Que já conheço, que já sei como doem, que arrisco de novo em senti-los...
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Desço numa estonteante viagem, que me acelera o coração e oprime-o com medo, tanto medo...
de não sentir as minhas asas a abrirem... de me aperceber em vão que porventura não as tenho.
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E vou querer que me agarres com dedos firmes e mãos fortes,
que vão saber a rochas que não se gastam com o vento.
Rochas de aço e não de areia...
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Nunca mais quero que me saibas a areia.
Essa escorrega-me pelos dedos e nunca a consigo agarrar...
ilusão de a prender, abrir as mãos e sentir o vazio, que me escorre,
como o azul que me emprestas do teu olhar.